BC argentino injeta US$ 250 milhões para conter alta do dólar
Depois da desvalorização recorde da última quinta-feira (30), que fez com que o peso perdesse 12% de seu valor em menos de uma semana e levou o Banco Central a aumentar a taxa de juros para 60% (a maior do mundo), o governo argentino tomou medidas para acalmar a tensão nos mercados e nas ruas.
O Banco Central injetou US$ 250 milhões (R$ 1 bilhão) para conter a escalada da moeda americana, que depois de atingir um pico de 41 pesos na manhã de quinta-feira (30), fechou em 38 nesta sexta-feira (31).
O ministro da Fazenda, Nicolás Dujovne, será enviado a Washington na próxima segunda-feira (3) à noite, para uma reunião com o FMI (Fundo Monetário Internacional) na terça pela manhã. A ideia é renegociar os requisitos do Fundo para liberar as cotas da linha de crédito de US$ 50 bilhões (R$ 200 bilhões), pactuada em junho. Entre elas, as de redução da inflação e do déficit fiscal em 1,3% em 2019.
Macri quer que Dujovne convença o Fundo a liberar o dinheiro de acordo com as necessidades do país de acalmar os investidores, segundo revelou o chefe de gabinete, Marcos Peña, em reunião com empresários.
O presidente havia anunciado, no começo da semana, um pedido de adiantamento de US$ 3 bilhões (R$ 12,2 bilhões), além dos US$ 15 bilhões (R$ 61 bilhões) já liberados.
O FMI confirmou o pedido e a reunião, e reforçou seu apoio ao governo. "A Argentina conta com o respaldo do Fundo e confiamos em que o forte compromisso e a determinação das autoridades argentinas ajudarão o país a superar esse momento de dificuldades", disse o porta-voz da entidade, Gerry Rice.
Antes de viajar, Dujovne anunciará um pacote de medidas que podem incluir aumentos de taxas de exportação, mais cortes de gastos públicos e o adiamento da implementação da reforma tributária.
A equipe de ministros que cuidam da economia ficou reunida durante toda a manhã e parte da tarde na residência de Olivos, junto a Macri e a vice, Gabriela Michetti. Não houve comunicados à imprensa, apenas a informação de que a reunião tratava do pacote de medidas a ser anunciado no começo da semana e de possíveis mudanças de ministros.
Há uma pressão de empresários e banqueiros para a troca de alguns nomes, entre eles o de Dujovne, o de Peña, funcionário favorito de Macri, e algum de seus dois vice-chefes, Mario Quintana e Gustavo Lopetegui. Macri afirmou que não abrirá mão de Peña e que este poderia ocupar outro posto, como o de chanceler, enquanto a chefia de gabinete seria entregue a um nome de perfil mais econômico.
Segundo o analista Sergio Berensztein, os sinais do governo "estão todos equivocados, em vez de apoiar-se apenas no FMI, deveria focar em seu trabalho político de negociar com os governadores das Províncias o corte de gastos públicos e com a oposição peronista moderada para que o apoie na implementação das reformas."
Na noite de quinta-feira (30), a Praça de Maio foi tomada por um protesto, inicialmente marcado para reivindicar aumentos salariais de acordo com a inflação por parte dos professores universitários, mas que acabou se transformando numa manifestação contra o presidente Macri e o FMI. Voltaram a aparecer os cartazes pedindo sua renúncia com a imagem de um helicóptero -referência ao modo como o ex-presidente Francisco de la Rúa abandonou o governo e a Casa Rosada na crise de 2001.
Durante esta sexta-feira (31), houve um protesto diante do ministério da Produção e panelaços foram ouvidos em diferentes bairros.
As principais casas de câmbio no centro portenho amanheceram com várias câmeras de televisão e jornalistas a postos para registrar as filas e os placares com o valor da moeda norte-americana.
"Estou comparando, se hoje baixar um pouco, vou comprar, porque este governo está fazendo tudo errado e já vi isso acontecer antes, vai explodir", disse Cristobal Lanzetti, 64, que caminhava entre uma e outra casa de câmbio durante a manhã comparando os "placares".
Nas últimas semanas, vários restaurantes e lojas passaram a expor na entrada o aviso de só aceitar pagamentos com cartão de crédito se este for internacional. "Em pesos não aceito mesmo, com essa volatilidade, corro o risco de receber a metade quando o valor cair", diz Pierre Ortuzar, dono de um café e quiosque no bairro de Palermo. Com informações da Folhapress.
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