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Após criticar bandeiras de Bolsonaro, líder do centrão usa provocação para pedir troca em banco

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, um dos principais líderes do centrão, aproveitou uma queixa do presidente Jair Bolsonaro para pedir a troca da cúpula do Banco do Nordeste e indicar o nome do substituto para comandar a instituição financeira.

Em vídeo no qual pediu a demissão dos executivos, Valdemar criticou nesta semana um contrato assinado pelo banco que estava em vigor desde 2003 e deixou claro que a indicação da cúpula do órgão é do PL.

O dirigente já indicou um novo nome para comandar o órgão, o do engenheiro Ricardo Pinto Pinheiro, embora a exoneração do atual presidente, Romildo Rolim, ainda não tenha sido publicada.

Antes, Valdemar já havia publicado vídeos nos quais expôs publicamente divergências com outras bandeiras de Bolsonaro.

O líder do centrão divulgou um vídeo na semana passada em que criticou a proposta do governo de fazer leilão para privatizar os aeroportos de Congonhas e Santos Dumont. Também fez outro expondo a posição contrária do PL ao voto impresso defendido pelo presidente.

Na votação de agosto que rejeitou a adoção do voto impresso, os dois principais partidos do centrão, PL e PP, foram cruciais para enterrar na Câmara a bandeira bolsonarista.

Apesar de serem aliados do presidente da República, as duas siglas deram apenas 27 votos a favor da medida, um terço de suas bancadas. Outros 36 deputados dessas duas legendas votaram contra e 18 se ausentaram, o que, na prática, contou como voto contrário à PEC.

O PL de Valdemar Costa Neto, um dos mais antigos caciques partidários do país, tem entre seus quadros a ministra responsável formalmente pela articulação política do governo, Flavia Arruda (Secretaria de Governo).

O pedido de exoneração de Rolim e toda a diretoria do banco teve como pano de fundo a vontade de Valdemar –que foi condenado por envolvimento no mensalão do PT– de trocar a cúpula do órgão e uma denúncia de supostas irregularidades recebidas pelo governo na gestão de recursos de um instituto contratado pelo BNB.

Bolsonaro recebeu notícias que foram publicadas no Ceará com a denúncia e cobrou explicações de Valdemar. Antecipando-se a uma decisão do Planalto, ele decidiu gravar um vídeo pedindo a demissão de toda a diretoria do banco.

Segundo integrantes do Planalto, com a denúncia, descobriu-se que a Oscip (organização da sociedade civil de interesse público) contratada para gerenciar microcréditos, que fazem o dinheiro chegar à ponta e são estratégicos em momento eleitoral, é gerenciada por uma pessoa filiada ao PT, o que irritou ainda mais o presidente.

O total de operações de crédito do BNB em 2020 foi de R$ 40 bilhões. Desse montante, R$ 15 bilhões foram em operações de microcrédito.

Politicamente, o Planalto avaliou que essa era uma forma de o PT continuar controlando recursos que vão parar nas mãos das populações mais carentes.

A Oscip é o Inec (Instituto Nordeste Cidadania). A entidade tem pessoas ligadas ao PT na gestão do órgão.

O Inec é contratado do banco desde 2003. Em nota, o Banco do Nordeste disse que a contratação do Inec "está em conformidade com a legislação vigente".

Em nova nota divulgada nesta terça (29), o banco afirmou que toda a estratégia de operação é definida pelo Banco do Nordeste, cabendo ao parceiro privado a execução da operacionalização, em campo, pelos agentes de crédito.

"A troca do parceiro não se mostrava vantajosa em virtude do custo da operação e do risco de se perder o investimento feito em profissionalização e do tempo necessário para se percorrer uma nova curva de aprendizado e de ajustes inerentes a uma nova parceria", justificou o banco em nota.

A instituição afirma que as renovações de contratos seguiram aspectos jurídicos e negociais e que os termos de cooperação entre o BNB e a Oscip são "amplamente auditados".

"Além da conformidade da prestação de contas, feita mensalmente pela área interna de microcrédito do Banco do Nordeste, gestora do termo, são utilizados outros instrumentos de governança", continuou o banco.

Apesar das trocas, integrantes do governo e do PL afirmam que a relação entre ambos continua boa, tanto que o presidente do partido já sugeriu novo nome para presidir o banco, segundo o próprio líder do PL na Câmara, Wellington Roberto (PB), confirmou à reportagem.

O imbróglio no Banco do Nordeste veio à tona após Valdemar divulgar, nesta terça-feira (28), um vídeo no qual afirma que enviara a ministros do Planalto pedido de demissão do presidente e de toda a diretoria do banco em razão de um contrato com uma ONG.

"Eu achei uma barbaridade um banco contratar uma ONG por R$ 600 milhões por ano e há muitos anos", disse.

"Quando eles [a nova diretoria] entraram no banco, já tinha esse contrato e nós não tínhamos conhecimento. Não podemos ter uma ONG contratada num banco da importância do Banco do Nordeste", afirmou.

"Fui surpreendido na sexta-feira à noite com um WhatsApp do presidente Jair Bolsonaro se eu tinha conhecimento do Banco do Nordeste tinha um contrato de R$ 600 milhões com uma ONG. A indicação é do Partido Liberal. Respondi para o presidente: duvido, mas vou esclarecer", continuou Valdemar.

Em outra frente, segundo integrantes do PL, Valdemar já queria trocar a presidência do órgão. Rolim deveria ter deixado a instituição em agosto, quando acabou seu mandato.

Segundo o estatuto do banco, um executivo pode ocupar por até três mandatos de dois anos a presidência ou diretoria do órgão. Rolim já havia sido diretor no BNB, mas havia quem entendia que ele poderia assumir um terceiro mandato no órgão, entre eles o líder do PL na Câmara.

Wellington Roberto defendia que Rolim fosse alçado a um novo mandato à frente do banco. Ele preside a instituição desde o governo Michel Temer (MDB).

No ano passado, Alexandre Borges Cabral chegou a assumir a presidência do BNB, mas foi demitido na mesma semana. Depois, Rolim retomou ao cargo.

De acordo com pessoas próximas a Valdemar, a decisão de demitir Rolim agora teria gerado estremecimento na relação com Roberto.

Valdemar já queria aproveitar esse momento para promover uma troca no órgão e aproveitou a oportunidade ao ser provocado por Bolsonaro, afirmam integrantes do PL.

Wellington Roberto nega qualquer estremecimento na relação e ressalta que no vídeo o presidente do PL fez questão de dizer que a demissão estava ligada ao contrato com a Oscip e nada tinha a ver com a qualidade dos diretores do banco.

"A interpretação do próprio Valdemar foi que ele ficou perplexo com a ONG ainda ser contratada. Nada que desabonasse a presidência do órgão", disse.

Wellington Roberto tem um filho que trabalha no Banco do Nordeste, mas negou que ele tenha qualquer ligação com executivos do órgão.

"Meu filho não é ligado a ninguém. Ele está na assessoria tributaria e institucional do banco, mas não tem ligação com os diretores", afirmou.

A indicação de um nome para presidir o Banco do Nordeste pelo PL ocorreu no ano passado depois de o presidente decidir se aliar aos partidos do centrão em busca de governabilidade. Além do banco, o governo abriu cargos na máquina federal a siglas como PP, Republicanos e PSD, por exemplo.

Fonte: Noticias ao Minuto

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