Para conter avanço da pandemia, Paraná terá toque de recolher
CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) - Em meio a um novo pico de casos e mortes por Covid-19, o governo do Paraná anunciou nesta terça-feira (1º) que vai instituir toque de recolher para a população e limitar a circulação por parques e praças de todo o estado. Os detalhes da medida só devem sair nesta quarta-feira (2), mas a pretensão é restringir a movimentação ao menos das 23h às 5h.
A gestão Ratinho Jr. (PSD) também vai retomar o trabalho remoto para servidores estaduais e recomendar que prefeituras e outros órgãos públicos tomem a mesma medida. A partir desta terça-feira, também estão suspensas as cirurgias eletivas em todo o Paraná.
A situação mais crítica da pandemia ocorre em Curitiba e na região metropolitana da capital, onde 93% dos leitos de UTI estão ocupados. Cerca de 50 pessoas já aguardam vagas em UTIs em hospitais lotados e devem ser transferidos para o interior do estado, onde há mais vagas.
A capital já vinha com crescimento de casos e mortos pela Covid-19 desde o início do mês, mas os dados da prefeitura não batem com as do governo estadual. No final de outubro, eram 3.762 casos ativos na cidade. Segundo o município, esse número cresceu mais de 250% no último mês e chegou a 13.829 nesta segunda-feira (30), maior registro desde o início da pandemia.
Mas, na conta da secretaria estadual de saúde, atualmente há 7.070 pessoas com a doença em Curitiba -uma diferença de 49% em relação ao número da prefeitura. Na soma total, o governo do estado divulga 43.068 casos confirmados de Covid-19 em Curitiba, enquanto que Executivo municipal contabiliza 78.760 -uma diferença de 35.692 registros, ou 45%.
O número de mortos também está desatualizado na conta estadual, que divulga 1.652 óbitos. Pela prefeitura, são 1.745, ou seja, 93 mortes a mais.
As informações divulgadas pelos governos estaduais são as que constam no boletim oficial do Ministério da Saúde e também são usadas para atualização dos dados pelo consórcio de veículos de imprensa.
Em nota, o governo do Paraná confirmou a divergência de números, mas afirmou que isso ocorre porque a prefeitura de Curitiba não utiliza o sistema oficial do estado, assim como fazem os outros 398 municípios. Sem informar data, disse que há uma programação para uniformização dos sistemas.
Destacou ainda que, independentemente dos números, analisa a situação por meio da taxa de ocupação de leitos, "dados que mostra atualmente uma situação preocupante".
Já a prefeitura afirmou que, em Curitiba, não existe represamento de dados e que alimenta os números no sistema de notificação obrigatória do governo federal e que envia diariamente a planilha de registros de Covid-19 para a secretaria estadual de saúde.
Mesmo com o represamento de dados também de outros municípios, mas em menor grau, como averiguou a reportagem, o boletim estadual já aponta 264 cidades (⅔ do total) com taxa de reprodução do vírus maior ou igual a 1.05, indicando uma curva ascendente da pandemia.
Diante da situação alarmante, o presidente da Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Curitiba e prefeito de Fazenda Rio Grande, Marcio Wozniack, anunciou que as cidades do entorno da capital devem definir um regramento único de medidas restritivas.
"São números alarmantes e que nunca alcançamos durante a pandemia. Praticamente 100% de todos os nossos hospitais de referência estão ocupados com casos de Covid-19. E não há previsão de abertura de leitos para essas pessoas, o que é muito grave", afirmou.
O secretário estadual de saúde, Beto Preto, afirmou que o governo estadual também não exclui medidas mais duras daqui para frente. "Infelizmente, neste momento, deveríamos estar numa baixa no número de casos, mas estamos no verão e subindo. Isso que deixa a nós muito surpresos e perplexos", disse em entrevista à RPCTV nesta terça-feira.
"Nosso trabalho é para alinhar as decisões do estado com as dos municípios e, por isso, vamos tomar essas medidas e continuar analisando o que vem pela frente. Recursos humanos, leitos hospitalares, medicamentos e estrutura física desses hospitais também têm um limite e, além desse limite, não conseguimos ir", concluiu em vídeo divulgado pela assessoria da pasta.
Preto cogita fechar parques e praças para que ocorra uma "diminuição de festejos de Natal e Ano Novo por parte dos entes públicos". Na capital, há uma extensa programação, com apresentações ao ar livre e decorações com restrição de acesso apenas por veículos.
Via assessoria, a prefeitura disse que não iria comentar a declaração do secretário estadual e ressaltou que, no momento, segue a bandeira laranja, com restrições médias de circulação, mas que pode rever as medidas de acordo com a evolução da pandemia.
Nas redes sociais, enquanto o prefeito reeleito Rafael Greca (DEM) divulga os eventos, alguns moradores cobram medidas mais rígidas. Somente na semana passada, após 15 dias de aumento de casos e mortos pela Covid-19, a prefeitura anunciou a bandeira laranja.
Com a medida, bares, casas noturnas e de festas foram fechados. Porém, a administração flexibilizou algumas regras previstas no decreto original. As atividades comerciais não essenciais, como lojas de rua e shoppings, tiveram o horário de funcionamento estendido, enquanto cinemas, teatros e restaurantes foram mantidos com restrições de horário.
Outra cidade com situação crítica é Foz do Iguaçu, no extremo oeste do Paraná, onde quase 92% das UTIs estão ocupadas. Na metade de outubro, o Brasil reabriu as fronteiras com o Paraguai, mas, enquanto o país vizinho possui uma série de medidas restritivas à circulação de brasileiros, do lado paranaense da fronteira as regras são mínimas.
Na ocasião, a prefeitura de Foz apresentou um plano de contingência para a pandemia e pediu ajuda ao Ministério da Saúde diante do possível aumento de casos. Segundo a assessoria do Executivo municipal, a pasta enviou 20 respiradores e 20 monitores para o hospital da cidade.
O plano previa, no entanto, a criação de 70 novos leitos de UTI e implantação de uma unidade móvel na cabeceira da Ponte da Amizade para triagem dos pacientes.
Nesta terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro esteve na cidade para visitar obras da Ponte da Integração Brasil-Paraguai e para se reunir com o presidente paraguaio, Mario Abdo Benítez. Foram registradas aglomerações no evento e muitas das autoridades não usavam máscaras, incluindo Bolsonaro e o governador Ratinho Jr.
No Paraná, há uma lei estadual obrigando o uso do equipamento de proteção, sob pena de multa. Procurada, a assessoria da prefeitura de Foz do Iguaçu informou que o evento ocorreu em área pertencente à União e que, portanto, não teria como atuar.
Fonte: Noticias ao Minuto
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