Corretora de bitcoin que sumiu com dinheiro deve R$ 2,1 bilhões
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Em relatório apresentado à Justiça, a consultoria EXM Partners afirmou que as empresas do grupo Bitcoin Banco possuem "um excesso de passivo circulante sobre o ativo circulante", ou seja, a diferença entre as dívidas e obrigações de curto prazo para pagar em até 12 meses com relação aos bens e direitos que podem virar dinheiro em curto prazo.
O valor total da dívida de curto prazo, segundo estimativas da consultoria, seria de R$ 2,1 bilhões.
O número é baseado nos balanços patrimoniais de setembro do ano passado, afirmou a consultoria à 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais do Foro Central de Curitiba.
Os problemas do grupo Bitcoin foram antecipados pela Folha de S.Paulo em agosto do ano passado. Na ocasião, eram mais de 200 processos judiciais contra as empresas do conglomerado, que variavam de R$ 10 mil a R$ 12 milhões em cobranças em vários estados brasileiros. Os clientes acusavam a corretora de sumir com o dinheiro investido.
Em suas considerações apresentadas ao Poder Judiciário, a EXM aponta que foram constatadas divergências significativas entre o passivo contábil e a relação de credores apresentada pelo grupo Bitcoin Banco, sem que existissem esclarecimentos por parte da associação.
Outro ponto destacado pelo EXM é que as empresas não apresentaram o detalhamento sobre as operações de mútuos e partes relacionadas, que representam cerca de 96% do saldo patrimonial do grupo.
O documento aponta que o grupo Bitcoin Banco perdeu a maioria de seus funcionários, reduzindo o quadro de 191 pessoas, em junho de 2019, para 30 contratados, em dezembro do ano passado. A EXM ainda diz que, na semana passada, as empresas do conglomerado viram seus advogados renunciarem no processo de recuperação judicial.
Por fim, o relatório ressalta que o Bitcoin Banco está com as atividades operacionais paralisadas e impedido de oferecer as operações de criptomoedas, seu principal produto para a geração de receitas, devido ao bloqueio no acesso aos seus servidores.
A Folha de S.Paulo teve acesso a uma lista de credores do grupo, que somava aproximadamente 6,4 mil nomes. O maior credor, uma pessoa física, tinha direito a receber cerca de R$ 20 milhões. Uma centena de clientes estão na relação dos que têm mais de R$ 1 milhão a receber. Um relatório inicial da EMX diz que o passivo totaliza mais de R$ 507 milhões.
Em sua defesa apresentada em agosto, quando começou a sofrer os processos, o grupo Bitcoin Banco apontava que foi alvo de tentativa de fraude - a mesma justificativa foi dada em comunicado aos clientes e nos processos judiciais aos quais foi alvo.
Uma das empresas do conglomerado é a NegocieCoins, que foi considerada, em abril de 2019, a segunda maior do mundo em criptomoedas e a primeira em volume de operações entre todas as corretoras, segundo o CoinMarketCap, que compila dados do setor. Na ocasião, a corretora brasileira teria negociado mais de 300 mil bitcoins em apenas 24 horas, montante que superaria US$ 2 bilhões.
As empresas do grupo, como a Negociecoins, agem como intermediária na compra e venda dessas criptomoedas, funcionando como instituições financeiras, assim como bancos e corretoras de valores imobiliários, mas sem serem efetivamente um banco, já que BC e CVM (Comissão de Valores Mobiliários) ainda não têm regras sobre o tema.
A Folha de S.Paulo tentou contato com o grupo Bitcoin Banco, que afirmou não poder comentar o relatório por se tratar de instrumento do processo judicial.
Fonte: Noticias ao Minuto
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