Empresários se queixam de falta de acesso a Bolsonaro
IGOR GIELOW - Empresários paulistas que deram apoio à candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) se queixam da falta de acesso ao agora presidente eleito. Temem perder espaço para suas agendas quando o deputado assumir o governo, em 2019.
Na noite de segunda (29), um grupo de 18 nomes de diversos setores vocalizou essa preocupação para a deputada federal eleita Joice Hasselmann (PSL-SP), a mulher com maior votação na história das disputas à Câmara no país.
Entre os presentes à casa do dono da rede Centauro, Sebastião Bonfim, estavam figuras próximas do bolsonarismo, como Flávio Rocha (Riachuelo) e Alberto Saraiva (Habib's).
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Procurada, Joice não deu detalhes, mas confirmou o encontro. "Foi um jantar de um grupo que quer ter voz junto ao governo", afirmou.
Segundo a reportagem apurou com presentes, houve diversas críticas ao que chamam de República do Rio: o grupo comandado pelo empresário Paulo Marinho e o advogado Gustavo Bebianno.
A dupla enfrenta o mau humor de aliados por ter blindado a agenda de Bolsonaro desde que ele voltou para casa após a internação pela facada que levou em 6 de setembro.
Marinho é suplente de Flávio, o filho de Bolsonaro que se elegeu senador pelo PSL-RJ. Bebianno chefiou o partido do presidente eleito durante a campanha e é cotado para integrar o governo.
Além de apontar o isolamento, os empresários também perguntaram a Joice como será a interlocução do PIB com o novo Congresso.
Entre pratos de arroz de pato e de ravióli de mozarela, os presentes ouviram que poderiam contar com a deputada para o encaminhamento de suas pautas e uma descrição do quadro geral –o PSL elegeu a segunda maior bancada, com 52 deputados, mas poderá ultrapassar a do PT até o fim do ano, com 60 nomes.
Houve perguntas sobre o encaminhamento da reforma da Previdência. Há dúvidas sobre qual o rumo a ser tomado, já que o indicado para a área econômica, Paulo Guedes, discorda do ministro anunciado para a Casa Civil, Onyx Lorenzoni.
O economista defende que já seja aprovada a reforma que está na Câmara, costurada pelo governo Michel Temer (MDB). Já o deputado do DEM-RS, que diz duvidar da existência do déficit da Previdência, afirma que o texto atual é "muito ruim".
Falando estritamente sobre política, Joice previu um início de legislatura movimentado, com propostas de instalações de Comissões Parlamentares de Inquérito sobre temas polêmicos, como a segurança de urnas eletrônicas.
Apesar das questões pontuais, o que transpareceu mais do encontro foi a preocupação de empresários que aderiram a Bolsonaro antes que seu favoritismo em pesquisas fosse precificado pelo mercado financeiro e pelo mundo político como uma realidade.
Como a Folha de S.Paulo mostrou ao longo da campanha eleitoral, havia muita resistência entre nomes do PIB mais tradicional, como empreiteiros e banqueiros, ao capitão reformado do Exército. O candidato preferido era Geraldo Alckmin (PSDB), que nunca decolou.
O agora presidente começou a atrair um perfil diferente de empreendedores, gente ligada mais ao setor de serviços e de varejo. Essa turma agora quer voltar a ser ouvida.
O momento em que o PIB mudou o olhar sobre Bolsonaro pode ser identificado em um café da manhã no dia 10 de agosto, quando o candidato foi ouvido por 62 empresários. Vários passaram a dar apoio abertamente a ele.
Flávio Rocha, que tinha tentado se lançar pelo PRB na disputa, estava presente e foi chamado de "vice-presidente de honra" pelo capitão.
Joice foi procurada também por seu papel no cenário estadual paulista. Ela apoiou João Doria (PSDB), vencedor do segundo turno no domingo (28), galvanizando um racha que se insinua entre ela e o senador eleito Major Olímpio, presidente do PSL em São Paulo.
Olímpio é desafeto de Doria e apoiou o governador Márcio França (PSB) na disputa. Joice pôde comemorar a vitória e, segundo os presentes, creditou a si uma acréscimo de 1,5 milhão de votos para o tucano –que venceu o pessebista por apenas 741,5 mil votos.
A deputada eleita reforçou sua proximidade com o futuro governador. Ambos irão para o Peru no fim da semana para participar de um fórum de investidores. Com informações da Folhapress.
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