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Eleição de esquerdista deve recalibrar alianças no México


SYLVIA COLOMBO - Para o analista político Javier Corrales, especialista em América Latina pelo Amherst College (Massachusetts, EUA), uma das possíveis mudança nas relações exteriores do México caso de o esquerdista Andrés Manuel López Obrador seja eleito no domingo (1º) é a reaproximação com Cuba e Venezuela.

"Com Cuba a intensidade da relação deve voltar a crescer. O México sempre foi aliado de Cuba, mesmo quando o resto do continente havia virado as costas para a ilha. Nos últimos anos, principalmente no período do PAN (Partido da Aliança Nacional, de direita), de 2000 a 2012, houve novo afastamento, que Enrique Peña Nieto tentou consertar, mas não concluiu."

Quanto à Venezuela, Corrales diz que ainda não está claro, no discurso de AMLO (como o candidato é conhecido), qual será sua posição.

"Imagino que de cautela, com críticas ao regime de Nicolás Maduro, mas não no volume em que Peña Nieto faz. Porém, não podemos descartar que ele veja em governos como os da Venezuela, da Nicarágua e da Bolívia aliados."

Com relação à América do Sul, Corrales espera um rompimento da tendência de eleições de tecnocratas neoliberais nos últimos tempos, que poderia vir a inspirar as esquerdas em países como Brasil, Argentina, Chile e Peru. "Tudo dependerá de como será sua atuação. Mas não é pouca coisa que a segunda maior economia da América Latina gire à esquerda quando se falava de fim da 'onda rosa'."

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Em seu discurso de encerramento de campanha, na quarta (27), AMLO pela primeira vez deixou mais claro como pretende se relacionar com os EUA. Apesar de manter o tom anti-imperialista do discurso, disse que tratará o presidente Donald Trump "com respeito" e que, "quando conveniente", proporá uma versão expandida do Tratado de Livre Comércio da América do Norte, com a América Central.

Esta é uma novidade, já que AMLO dissera que deixaria o Nafta, embora tenha recuado.

Só não ficou claro se ele proporia este acordo incluindo a América Central no lugar do Nafta ou se manteria os dois, (caso Trump aceite, é claro).

Outro item de potencial conflito com os EUA é que AMLO é contra o fato de o atual presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, ter apertado o cerco da fronteira sul do país, deportando e impedindo cada vez mais centro-americanos de entrarem no México a caminho dos EUA.

Peña Nieto tomou essas medidas a pedido do democrata Barack Obama (2009-17) e as reforçou na gestão Trump.

Para AMLO, é preciso repensar como inserir os imigrantes centro-americanos no país ou ajudá-los de outra forma, mas parar com a política de deportação em massa.

Isso poderia gerar problemas na fronteira norte, uma vez que, mesmo com as portas mais fechadas ao sul, ainda assim 9 de cada 10 imigrantes ilegais que entram nos EUA vêm da América Central e apenas um do México, segundo pesquisa do Pew Research Center.

Corrales chama a atenção para as semelhanças entre Trump e AMLO - o fato de ambos falarem em protecionismo e agirem e falarem como populistas, afirma.

Também defendem o "America first", no caso de Trump, enquanto AMLO fala em "México para os mexicanos".

Porém, alerta o estudioso, há muitos assuntos nos quais os dois podem discordar.

"De alguma forma, eles são dois lados da mesma moeda, mas creio que apenas quando de fato López Obrador for eleito é que vamos ver como será essa relação", conclui.

A principal diferença entre eles, talvez, seja a de que Trump tem, nos EUA, um Judiciário e um Congresso mais independentes e que podem conter seus excessos.

O que os analistas mexicanos temem de AMLO é que essas instituições são mais fracas no México. E, segundo as pesquisas, o Morena (Movimento de Regeneração Nacional) deve conseguir a maior bancada do Congresso, o que lhe daria mais espaço para alterar a Constituição ou tomar medidas mais radicais do que tem seu par norte-americano.

Apesar do tom moderado do encerramento da campanha, López Obrador deve a disparada de sua candidatura às críticas de que Peña Nieto não respondia às agressões de Trump aos mexicanos e não dizia abertamente que o México não iria pagar pelo muro que o norte-americano insiste em construir na fronteira.

Os insultos de Trump aos mexicanos, chamando-os em algumas ocasiões de narcotraficantes e estupradores, levou muitos a apoiarem AMLO como alguém capaz de dar respostas mais à altura que Peña Nieto, que nada dizia.

Uma pesquisa recente mostra que, atualmente, mais de 80% dos mexicanos têm uma visão negativa do presidente norte-americano.

AMLO surfou nessa onda e foi então que sua popularidade começou a subir. Se ele, de fato, depois de eleito, dirá aquilo que seus eleitores esperam que diga ao presidente norte-americano é uma das questões para após o pleito.

Com informações da Folhapress.

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