Após ataque, jornal deixa página em branco e afirma estar sem palavras
ESTELITA HASS CARAZZAI - Em uma edição de 40 páginas, publicada no dia seguinte ao ataque a tiros que deixou cinco mortos em sua redação, o jornal americano Capital Gazette deixou apenas uma em branco: "Hoje, estamos sem palavras".
Era a página de opinião e editoriais, que serviu para homenagear as cinco vítimas, sendo quatro jornalistas, mortas na quinta-feira (28) na sede do jornal, em Annapolis (a 50 quilômetros de Washington). "Amanhã, esta página vai retornar ao seu firme propósito de oferecer a nossos leitores opinião informada sobre o mundo ao seu redor."
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Todas as outras estavam repletas de reportagens, inclusive sobre o crime ocorrido na Redação. Os repórteres montaram uma Redação em cima da caçamba de uma caminhonete, num estacionamento em frente à sede do jornal.
"Eles estão mandando uma mensagem: não serão silenciados por essa ação", afirmou à reportagem o jornalista Terry Smith, 79, colunista da Gazette. Smith trabalha de casa e colabora esporadicamente para o jornal, que afirma ser "essencial" à população de Annapolis, cidade histórica de 40 mil habitantes e capital do estado de Maryland.
"Eu nunca, jamais pensei que isso pudesse acontecer. Eu sempre admirei a forma como a Redação se manteve aberta ao público", afirmou. "Todo mundo podia fazer contato, submeter artigos." As motivações do ataque ainda não são conhecidas.
O atirador, que perdeu uma ação judicial contra o jornal por difamação, impetrada em 2012, se negou a expor seus motivos à polícia e se manteve em silêncio no tribunal."Pelas evidências, acho que foi uma ação mais pessoal que política", disse Smith. "Mas aconteceu na atual atmosfera com relação à imprensa na América, que é absolutamente azeda e muito difícil."
Jornalistas enfrentam uma crise de credibilidade no país: o nível de confiança do público em jornais está em declínio, e o presidente Donald Trump, que se notabilizou pelo uso da expressão "fake news" (notícias falsas), amplifica as críticas. Mas não há evidências até aqui de que o ataque à Gazette tenha sido um crime contra a imprensa.
Nesta sexta, jornalistas do veículo continuaram cobrindo os desdobramentos do ataque. A repórter Pamela Wood vestia uma camiseta com a frase: "Jornalismo importa - hoje, mais do que nunca".Entre as reportagens publicadas nesta sexta, estão duas assinadas por Wendi Winters, 65, morta durante o ataque. Ela editou o caderno de entretenimento. Com informações da Folhapress.
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