Bruno Fratus fatura bronze e conquista medalha olímpica que tanto buscou nos 50 m livre
DANIEL E. DE CASTRO
TÓQUIO, JAPÃO (FOLHAPRESS) - Na primeira tentativa, em 2012, Bruno Fratus ficou com a quarta posição nos 50 metros nado livre, a dois centésimos do pódio. Na segunda, em 2016, a decepção com o sexto lugar agravou um quadro de depressão. Na terceira, em Tóquio, em 2021, o brasileiro conquistou a tão desejada medalha olímpica.
Na noite deste sábado (31), o velocista de 32 anos ficou com o bronze ao completar a prova mais rápida dos Jogos em 21s57. O lugar no pódio no centro aquático de Tóquio se materializou como recompensa para um atleta obstinado e que na última década sempre brigou para chegar entre os primeiros.
"Estava entalado desde 2011, quando foi o meu primeiro Mundial. Depois, em 2012, aquela Olimpíada 'do quase'. Depois do Rio principalmente... Foi um grito de 'finalmente medalhista olímpico, finalmente conquistei meu sonho que começou quando eu tinha 11 anos'", afirmou Fratus após a prova ao SporTV. "Não teria sido sem o apoio das pessoas, mas também não teria sido sem a palavra de quem duvidou."
À frente dele ficaram o francês Florent Manaudou, que completou a prova em 21s55, conquistando a prata, e o favorito Caeleb Dressel, com 21s07. A marca deu ao americano a medalha de ouro e o recorde olímpico, até então de Cesar Cielo (21s30), mas não foi suficiente para derrubar o recorde mundial, de 20s91, também do brasileiro.
Além do bronze olímpico, Fratus tem ainda quatro medalhas em Campeonatos Mundiais. Nos Jogos de Londres, quando cultivava uma rivalidade nacional na prova com Cielo, ele esteve muito perto de tirá-lo do pódio, mas isso não aconteceu. Faltaram dois centésimos.
Quatro anos mais tarde, ele saiu da piscina no Rio visivelmente decepcionado com a sexta posição. O que veio na sequência se revelou pior. Ao dizer ironicamente em entrevista logo após deixar a água que estava "felizão" com o resultado, acabou bombardeado por críticas.
Ele se desculpou na sequência, mas o estrago estava feito e aumentou a frustração.
"Fui deixado de lado por muita gente que eu achava que iria me apoiar numa situação como aquela. Eu me senti muito sozinho por um momento. É fácil apoiar alguém que está indo bem, mas quando a pessoa cai é aí que você vê quem são seus verdadeiros fãs e amigos", disse o brasileiro ao Olympics.com em 2020.
Neste sábado, ao sair da piscina, Fratus agradeceu à mãe -"eu te amo-, ao pai, "por ter comprado uma passagem só de ida quando eu tinha que sair de casa", ao COB (Comitê Olímpico do Brasil) e à esposa e treinadora, a nadadora olímpica Michelle Lenhard. "Eu fui só o cara que subiu no bloco e nadou, mas tem umas cem pessoas que me ajudaram."
Até o fim de 2016, o nadador viveu momentos difíceis. Engordou 12 quilos e nadou competições apenas por razões contratuais, nas quais não gostaria de estar. Em 2017, quando começou a ser treinado por Lenhardt, as coisas voltaram a engrenar.
O brasileiro foi medalhista de prata na prova dos 50 m do Mundial de Budapeste, com o melhor tempo da carreira (21s27) e repetiu o vice na edição seguinte, em 2019, em Gwangju, na Coreia do Sul.
Durante este ciclo olímpico, Fratus sempre esteve entre os nomes mais cotados do Brasil para conquistar uma medalha no Japão. Também consolidou seu papel de liderança em meio a um processo de renovação da natação brasileira. "Não gosto muito de me intitular líder, chamar a coisa para mim. Eu sou fã de liderar pelo exemplo. É muito raro eu chegar e puxar alguém para conversar, mas quem quiser seguir o exemplo e aprender, porque eu estou fazendo isso já faz um tempo, que venha junto que eu ensino com o maior prazer", disse durante a disputa dos Jogos Pan-Americanos de Lima-2019.
Ele acaba de ampliar esse repertório. Fratus conquistou a segunda medalha da natação brasileira em Tóquio, após o bronze de Fernando Scheffer nos 200 m livre. É a 15ª do país nas piscinas em Jogos (além de uma na maratona aquática, com Poliana Okimoto), após sair zerada da Rio-2016. Ele também repetiu Cielo e Fernando Scherer como medalhistas na prova mais veloz do programa olímpico.
"Os caras são grandes, mas 'nois' é ruim. Aqui é Brasil. A gente vai e faz", disse o atleta após o bronze. "Se é para deixar uma mensagem é: cara, nós somos o melhor povo, nós temos o melhor país do mundo. Eu moro nos EUA e todo mundo admira o Brasil, o povo brasileiro. A gente é muito capaz. Como eu fiz hoje, permitam-se ser o povo que podemos ser, o país que podemos construir. Somos os melhores do mundo."
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