Presidente da Tunísia suspende Parlamento e destitui primeiro-ministro
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em uma forte escalada nas tensões políticas na Tunísia, o presidente do país árabe, Kais Saied, suspendeu as atividades do Parlamento e destituiu o primeiro-ministro neste domingo (25).
O gesto foi classificado de golpista pelo chefe do Parlamento, Rached Ghannouchi, por atentar contra a revolução e a Constituição promulgada em 2014.
Saied declarou que irá assumir o mais alto cargo do Executivo com a assistência de um novo primeiro-ministro, em um desafio à carta constitucional, que estabelece a divisão de poderes entre presidente, primeiro-ministro e Parlamento. Na Tunísia, a autoridade do presidente se limita às relações exteriores e à área militar.
Em nota à imprensa, o presidente afirma que "muitos foram enganados pela hipocrisia, traição e roubo dos direitos do povo". Saied também alertou que os militares do país irão responder a qualquer reação armada às suas decisões também com armas. "Se alguém atirar, as Forças Armadas irão atirar de volta", afirma.
Nas últimas semanas, o país registrou uma série de protestos contra o primeiro-ministro Hichem Mechichi (agora destituído) e Ghannouchi, ambos filiados ao Enahda, partido moderado islâmico que tem maioria no Parlamento tunisiano.
Durante os protestos, as sedes do Enahda nas cidades de Sfax, Monastir, El Kef e Sousse foram invadidas por manifestantes.
As manifestações são reflexo da atual gestão da pandemia da Covid-19, bem como das contínuas crises econômicas sofridas pelo país desde a Primavera Árabe, em 2011, quando uma onda de protestos levou à queda do então ditador, Zine el-Abidine Ben Ali, e à mudança de regime para uma democracia.
Cada vez mais insatisfeitos com o índice de desemprego e a precariedade dos serviços públicos, os tunisianos voltaram às ruas dez anos após a revolução para pedirem a dissolução do Parlamento e a renúncia do primeiro-ministro, o que evidencia que a democracia está sendo questionada no país.
Além de acusar o presidente Saied de tentar um golpe, Ghannouchi, também líder do Enahda, afirma que as instituições continuam funcionando no país e que "apoiadores do Enahda e do povo tunisiano continuarão defendendo a revolução [de 2011]."
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