Embraer abre processo de arbitragem contra Boeing por fim de acordo
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Embraer anunciou nesta segunda (27) que abriu um procedimento de arbitragem acerca da rescisão do acordo com a Boeing, feita pela empresa americana no sábado (25).
O fato relevante ao mercado não informa, contudo, se haverá também uma ação judicial -o fórum para esse tipo de disputa é a Justiça de Nova York, segundo acerto prévio entre Boeing e Embraer. A arbitragem é um procedimento semelhante a um processo legal, destinado a resolver pendências entre partes quando um contrato é cancelado.
Também não foi divulgado onde a arbitragem correrá. Nesse processo, que é sigiloso e costuma ser mais célere do que casos judiciais, os envolvidos indicam os componentes de uma câmara de arbitragem para discutir o caso.
No sábado, a Boeing anunciou que cancelaria o acordo pelo qual compraria o controle da linha de jatos comerciais da Embraer por R$ 4,2 bilhões (R$ 23,5 bilhões). O acordo vinha sendo costurado desde 2017 e a americana afirmou que os brasileiros não cumpriram todas as exigências para a separação da área.
A Embraer reagiu duramente, com uma nota acusando a Boeing de ter forçado o fim do contrato, e insinuando que a americana assim o fez porque enfrenta grave crise financeira com a paralisação da produção de seu best-seller, o 737 MAX, e por causa da queda de demanda decorrente da crise do novo coronavírus.
Nesta segunda, o fundador da Embraer, o engenheiro Ozires Silva, gravou um vídeo motivacional para os funcionários da empresa.
"As negociações com a Boeing para esta nova etapa serão difíceis, como foi a decisão de privatização em 1994. Mas eu tenho certeza que isto não vai desanimar vocês", disse Silva, 89.
Conforme a Folha de S. Paulo havia mostrado no mês passado, a Boeing já estava reavaliando a compra da Embraer devido à crise. Seu valor de mercado em Bolsa caiu 60% de janeiro para cá. A empresa já enfrentava dificuldades pela novela do 737 MAX, avião proibido de voar desde o ano passado, após dois acidentes fatais decorrentes de um problema de software.
A pandemia do Sars-CoV-2 complicou a situação de vez. O setor aéreo foi um dos mais atingidos no mundo pela doença, com países de todo o mundo limitando severamente o tráfego de aviões. Com isso, as fabricantes aeronáuticas viram seus pedidos serem revistos no mundo todo -a Embraer também foi duramente atingida.
Segundo negociadores da empresa brasileira, os americanos não quiseram assumir essa realidade e justificaram o fim do acordo com detalhes técnicos facilmente superáveis. O prazo para a resolução de todas as questões era a meia-noite de sexta (24), e a Boeing afirma que não havia como prosseguir por culpa da Embraer.
O que seguirá será uma encarniçada disputa, que provavelmente chegará à Justiça. A Embraer quer compensação pelo que chama de prejuízo. No ano passado, desembolsou R$ 485,5 milhões nos esforços para destrinchar sua área de aviação comercial dos setores de defesa e jatos executivos, que ficariam na empresa brasileira remanescente do negócio.
Também investiu para montar a joint-venture que controlaria, com 49% de participação da Boeing, para fabricar e vender sua principal aposta no setor de defesa, o cargueiro C-390 Millennium.
O avião já era objeto de uma ação internacional conjunta de marketing com os americanos, que em tese prossegue, mas que deverá ser afetada pela disputa entre as empresas.
A fusão Boeing-Embraer foi uma resposta à realidade do mercado em 2017, quando a rival europeia da americana, a Airbus, comprou a linha de jatos regionais C-Series da canadense Bombardier, principal competidora da brasileira.
Ao associarem-se aos brasileiros, os americanos ficariam com um produto que não tinham em seu portfólio e renovariam sua área de engenharia, que lutava com atrasos em projetos. Para a Embraer, seria uma forma de ver seus aviões com uma distribuição global semelhante à da Airbus.
Além disso, ao manter 20% de participação na empresa, ainda receberia recursos para sua nova encarnação, como empresa de defesa e aviação executiva.
Agora, a especulação é sobre seu destino, já que teoricamente as duas principais cadeias mundiais de produção estão fechadas. A China, com a estatal Comac, busca uma expansão e poderia ser uma parceira, embora a experiência de produção na ditadura asiática não tenha deixado boas lembranças na Embraer.
Fonte: Noticias ao Minuto
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